Tuesday 25 September 2007

Teatro

Fui ao teatro durante esta longa e lancinante ausência.. fui o teatro nesta nossa tragédia. Fui pano e ponto, fui as três pancadas de Moliére, fui adereço e cenário e tu apenas assistias, impávido, sereno, desprovido de emoções e pleno de ilusões... não, meu amor. Não te iludas... não era eu a louca que quase pereceu naquele palco de madeira escura que rangia a cada passo meu, que gemia.. como eu. Era somente a adaga que te iria trespassar... chama-me dor, meu amor. A estranha dor de tanto de amar.

( Voltar a correr descalça pelos bastidores, entrar nos camarins para me maquilhar, imaginar-me uma dama da corte, imaginar-te o estranho cavaleiro da máscara escarlate que iria olhar para mim, para o meu rosto rosa e carmim e enfim tocar-te.. meu herói inventado de máscara escarlate.. louca de desejo, desejo sair de cena, não quero ser mais a adaga a sede que não te larga... peço tão pouco... imploro, anseio, e creio que voltarei a correr descalça pelos bastidores até tropeçar e cair, cair, cair, mesmo ali, mesmo aqui. Junto a ti. )

Fora de cena quem não é de cena!! Fora de mim... meu único espectador, observa a cortina a baixar e não esperes que volte para recolher os teus aplausos.. vislumbra as sombras que nascem quando as luzes diminuem.. olha-as bem... reconheces aquelas silhuetas?... vê bem a linha de comboio... essa ignóbil linha de comboio onde somos dois carris, onde madeira e pedras impedem o nosso toque... mas assim seguimos. Lado a lado. Until the end of the world.